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21 de out. de 2009

História de The Redskins*


Tratar de traçar a vida de um grupo como os Redskins não é uma tarefa fácil. Cada um tem sua própria visão do que significaram, porque se trata de um grupo mítico, um desses raros grupos que estão praticamente sós na origem de um movimento.
1981: Um bar de Leeds. Uma banda skinhead de York chamada “No Swsatikas” toca ante um público confuso.
Obviamente não são uma banda de Oi!(demasiado política, sem traço de cockney). O vocalista, alto e magro, reluz um pequeno corte como o de “Tintin” (personagem infantil); o baixista parece um skin-mod clássico. Tocam punk rock- não o Oi! bronco, bêbado e orgulhoso nem o estilo de patches e moicanos de Discharge, senão algo mais próximo ao som dos primeiros Jam ou Clash. E havia só uma insinuação do soul dos Dexy’s Midnight Runners. Eles se converteriam nos Redskins.
1982: O Oi! havia desaparecido entre o cú de Garry Bushell (onde logo chegaria seu cérebro). O rápido ska multirracial e anticonservador da Two Tone tinha vida, excêntricos punks como os Three Johns e The Membranes, e algumas bandas vermelhas punks como os Newtown Neurotics ainda tocavam. Mas estava passando de moda ser uma banda rebelde de rock, especialmente uma banda skinhead rebelde de rock. Mas, todavia os Redskins se organizaram para estimular um rumor. A revista NME publicava referências da banda. Sounds publicou a manchete "Quem são os Redskins?". Ambas revistas publicaram cartas de garotos que diziam ter visto os Redskins. A evidência real era muito pouca.
O selo de York CNT lançou o single "Peasant Army". Uma aparição na marcha pelo Direito ao Trabalho em Woolwich, vestidos com capuzes, provocou um comentário na Sounds ("Quem pensam que são? O I.R.A?"). Quem são os Redskins?
Logo se soube que Chris Dean, o vocalista da banda, esteve trabalhando na NME por algum tempo sob o pseudônimo "X Moore" e havia inserido referências da banda, alimentando o rumor. Descobertos, os Redskins emergiram em plena luz do dia.
Há um programa de John Peel onde o som punky dos Redskins é complementado com uma seção de metais pela primeira vez. Um singelo "Lean On Me" surpreende gratamente a muitos com letras claras que podem ser lidas como uma canção de amor e como um chamado à solidariedade da classe operária. Tocaram em festivais com The Clash e os Dead Kennedys e começaram a dar entrevistas.
Os Redskins eram membros ativos do Socialist Workers Party(Partido Socialista dos Trabalhadores), partido socialista revolucionário trotskysta, e no princípio o grupo foi visto como um meio de promover a linha política do partido.
Seu primeiro baterista se chamava Paul Hookham e logo foi substituído por Nick King, ex- baterista dos Woodentops (grupo de rock com influências do pop dos anos 60).
Este último, sublinha George Marshall no "Spirit of 69", sofreu uma transformação radical de visual a fim de adaptar-se à imagem skin do grupo. Chris e Martin eram skinheads desde muito tempo.
A banda tinha alguns amigos na imprensa musical mas a resposta geral foi de hostilidade e cinismo. A imprensa musical estava nas mãos de jornalistas de coquetel que preferiam o pop pós-moderno apolítico e limpo.
Mas, entretanto, os Redskins não estavam buscando público. Os skins anti-racistas e de esquerda, que se sentiam inspirados pela política do punk e que queriam um rock de protesto, mas que haviam sido deixados de lado pela postura truculenta primitiva e moralista de bandas anarquistas que seguiram a partir de Crass, encontraram um lugar com os Redskins, dando origem a um novo movimento.

Marshall descreve sua música como uma mescla do som Motown e Stax e de rockabilly (!).
Entretanto, reconhece que trouxeram nessa época um segundo ar à música skinhead que estava estancando-se numa espécie de “oi rock'n'roll heavy”, sopa quase inaudível da qual escapavam uns latidos nazis do pior gosto. E isto explica, segundo ele, a presença de verdadeiros skinheads nos seus shows, que de outra maneira estaria lotado só de estudantes e de rockabillies.
Apesar da crescente confiança do governo conservador e da pouca popularidade do “pop esquerdista”, os Redskins nunca estiveram sem aliados. Em 1984 compartilharam palco com Billy Bragg e Bronski Beat. Também assinaram com London records, apesar da consternação de alguns jornalistas. Para 1984 a política revolucionária dos Redskins parecia ser uma ressaca absurda dos anos 70. “Onde estava toda essa raiva e a luta da classe operária de que tanto falavam? Ah?”.
E então os mineiros foram à greve.
Precisamente quando a maioria das bandas estavam trancadas nos estúdios trabalhando seu primeiro LP, os Redskins estavam viajando por todo o país tocando em festivais em benefício dos mineiros. Chris Dean publicou um artigo extenso e brilhante na NME. De repente todos queriam falar sobre política.
De alguna maneira encontraram tempo para lançar seu single "Keep On Keeping On" (acerca da greve, naturalmente). Os Redskins tornaram-se “moda”, provavelmente pela primeira e última vez. Mas já começava a aparecer a tensão.
Os Redskins eram autênticos revolucionários, mas eram também parte do negócio discográfico. As contradições eram óbvias, e logo se tornariam avassaladoras.
Os Redskins fizeram festivais, trocaram baterista, fizeram um álbum, "Neither Washington Nor Moscow", com partes sampleadas do líder do SWP, Tony Cliff, e foram golpeados pelos nazis no tristemente célebre show do "Jobs for a Change Festival", onde além dos Redskins estavam presentes Billy Bragg, os Smiths e Aswad.
Nesse dia, na metade de "Lean On Me", um bonehead facho arremeçou uma garrafa na banda e foi o sinal para que uns trinta boneheads simpatizantes do National Front subissem no palco e agredissem a banda.
O público espantado, que cinco minutos antes se agitava com camisetas antiapartheid viu-se sem ação, enquanto um punhado de skins antinazis e de fãs dos Redskins correram em seu auxílio. Seguiu-se uma perseguição nas ruas próximas, onde os transeuntes alucinados puderam ver, sem entender porque, skins golpeavam outros “skins”.
O incidente terminou essa noite com o ataque em Islington a um bar de extrema direita, organizado em represália por militantes de esquerda.
É a partir de então (junho de 1984) que os shows dos Redskins são vigiados permanentemente por skins antinazis encarregados de revistar as entradas. Cremos que estes tipos não só eram "antinazis", como parece fazer crer George Marshall, já que dedicavam muito tempo a sua banda favorita.
Sabemos, ademais, que o grupo sempre se preocupou em fazer shows a baixo preço. Tocaram grátis ou em benefício de numerosas causas sociais (antiapartheid, greves de mineiros, etc.) e ante o rechaço da Decca de lançar "Kick Over The Statues" em benefício dos mineiros, não vacilaram em lançar por outra gravadora. Em poucas palavras, alternativos no melhor sentido do termo.
Do lado musical, é a mescla ideal: guitarra incisiva, baixo alegre e bateria insistente. Uma voz cálida e apaixonada, seção de metais completa, percussões, um pouco de órgão dos anos 60, ruídos, ambientes de manifestação política.
Há que sublinhar também a grande continuidade na linha gráfica de suas capas de discos e de seus logos, inspirada principalmente no construtivismo russo (exceto o singelo "Power Is Yours" que é diferente).

Sem esquecer o jogo de palavras insuperável em inglês que constitui a palavra redskins e que está na origem de muitos detalhes no estilo dos reds (colares de índios, fivelas de cinturão, anéis, camisetas com o índio, tatuagens, etc.). Impecável!
Os Redskins, em sua curta carreira, declararam muitas vezes que os meios não julgaram com suficiente objetividade sua música. Porque eles também eram músicos e sua mensagem não poderia dar-se a conhecer se seu ritmo não convidasse à dança, à febre.
Por isso sua música era de grande qualidade e chegou a uma audiência tão grande (na Inglaterra). Demasiado grande talvez, porque sua popularidade foi uma das causas de seu próprio fim, com a caça fonográfica exercendo uma pressão constante para fazer-lhes produzirem muitas coisas que não queriam.
Sua dissolução seria anunciada unicamente no jornal oficial do SWP. Um comunicado breve que tem mais de comunicado político que musical. O baixista Martin Hewes agora é guitarrista de um grupo de punk rock feminino. Billy Bragg disse que Chris foi crítico de cinema ou literário em Paris. Seu primeiro baterista, Paul Hookham toca atualmente nos grupos Cyderco e Le Rue. O outro baterista parece que morreu num estranho acidente de jardinagem.
Assim termina a história de um grupo que soube inventar um estilo novo, refrescante, profundamente arraigado na música negra norte-americana dos anos 60, mas sem nenhuma nostalgia revivalista, levando uma mensagem moderna em relação com a atualidade, a realidade de sua condição de proletários comprometidos no progresso da evolução humana. O que nenhum grupo mod seria capaz de fazer com as mesmas influências.
Foram skins modernos inscritos ao mesmo tempo na tradição e orientados em direção ao que estaria por vir, que deram origem a um movimento novo que foi um segundo fôlego para a juventude skinhead.


* Por KO!KO! e Swells, extraído do Zine El Perro Rojo #9, traduzido a partir do castelhano para a página de R.A.S.H Fortaleza.

Um comentário:

  1. ótimo texto, sobre uma ótima banda, bem escrito mesmo, da pra perceber que quem escreveu é grande adimirador da banda assim como eu.
    Bem escrito mesmo.
    r4f43l@hotmail.com SP Guarulhos

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